Quando Não Tens Objectivos
Há uns anos atrás começava a ver a minha vida de uma forma completamente estruturada.
Todo um mundo de oportunidades, de projetos e sonhos começava a tomar forma. Parecia que tinha sido contemplado pela sorte.
O que tinha delineado estava a acontecer tal como eu previa. A dedicação, o esforço, o empenho e os vários sacrifícios que tinha vindo a fazer estavam agora a dar os seus frutos.
Cheguei onde queria ter chegado.
Quando parei para contemplar tudo aquilo que tinha, algo de estranho se começou a passar. Uma sensação de vazio interior que se ia adensando. Nessa altura surgiu-me a questão “afinal era isto?”.
O meu discurso interno começou a ser cada vez mais crítico, uma parte de mim dizia que sim, que tinha de estar contente e apreciar o que tinha, outra dizia precisamente o contrário, que “isto” não poderia ser tudo e que algo mais estava para além daquilo que eu conseguia ver.
Pensei que era uma fase, que tudo ia passar. Acreditei na desculpa mais comum com a qual justificamos a maioria das coisas que não queremos ver, “isto é cansaço”.
Tirei umas férias, os primeiros quinze dias seguidos desde que iniciei o meu percurso profissional.
Quando regressei, voltei ainda mais cansado, mais desconcentrado, mais frustrado e ainda com mais vontade de sair dali.
Não era “cansaço”, estava a meio de uma verdadeira história de sobrevivência. Afinal, eu queria era viver e não apenas sobreviver. Foi aí que me lembrei de uma frase, quase em forma de profecia, “se não parares, a vida vai encarregar-se de te parar”.
Comecei a pôr tudo em causa, desde o que tinha, o que era e o que tinha feito até aí. Lutei durante anos contra essa sensação de sobrevivência, até que a profecia se realizou, a vida parou-me.
Prometi a mim mesmo, à minha esposa e à minha filha que iria fazer de tudo para que a vida não me parasse novamente.
Para que assim fosse, tive de perceber primeiro o motivo por detrás desse acontecimento.
Detetei um padrão de análise. Via as coisas piores do que realmente eram, usando o meu pessimismo como um escudo, criando a falsa proteção de dores emocionais relacionadas com expetativas fracassadas.
Fechava-me num mundo onde nunca sentia nem demasiada dor, nem demasiado prazer. As emoções que sentia e as acções que tomava eram baseadas na forma como avaliava as coisas.
Ao mesmo tempo cometi um grande erro. Ao aproximar-me daquilo pelo qual lutei durante tanto tempo, não fixei de uma forma imediata um novo conjunto de objetivos.
Ao não estabelecer esse compromisso, não arrisquei e fiquei na minha zona de estagnação, perdendo o desejo de me expandir.
Deixei de perceber o verdadeiro impacto dos objectivos no ambiente que me rodeava, pensando que a concretização dos objectivos eram um fim em si.
Hoje percebo que quando luto pelos meus objectivos, desencadeio outros efeitos com consequências mais abrangentes do que aquilo que pensava anteriormente.
Atingir objectivos, só por si, nunca nos fará felizes a longo prazo. É quem eu me torno, a forma como supero os obstáculos necessários para os alcançar que me traz o mais profundo e duradouro sentimento de realização.
Os comportamentos, as capacidades, os valores, as convicções que os novos objetivos nos trazem estão relacionados com a identidade que assumimos e com isso, a pessoa que nos tornamos.
Um objetivo é uma causa posta em acção, é uma soma de conquistas que nos tornam mais confiantes e determinados, uma soma de frustrações que que nos obrigam a fazer distinções sobre onde nos devemos focar e que estratégias devemos adoptar e assim, alterar.
Este vazio causado pela falta de objetivos adensa-se quando é no campo pessoal. Se sentes ou sentiste esse vazio e se tentares fazer uma pequena reflexão, poderás aperceber-te que o desafio não está no objetivo, mas na falta dele.