O propósito
Hoje em dia falamos muito em propósito de vida.
De uma forma quase automática, quando estamos numa fase menos produtiva e ao mesmo tempo continuada, quer a nível pessoal, quer a nível profissional, surge o conceito de propósito de vida.
Associamos normalmente, ainda que de forma inconsciente, um efeito de rotura com o que fazemos e com o que temos.
Na minha opinião, nada podia ser mais ilusório. Nem sempre é necessário fazer um corte transversal e radical na nossa vida.
O propósito de vida tem como principal objectivo alinhar a nossa identidade, as nossas convicções, os nossos valores, os nossos conhecimentos, os nossos comportamentos e as nossas relações com as pessoas que nos rodeiam.
É algo que nos faça fazer o que fazemos com paixão, que nos faça esboçar um sorriso sempre que pensamos nisso, que nos faça perder a noção do tempo e, para isso, não é necessário um corte radical com o que temos, basta reenquadrar e adaptar. Pode ser numa nova profissão, atividade ou até como hobbie.
Sempre que nos deixamos levar por conclusões radicais, surgem duas barreiras. A barreira da tomada de consciência, do que eu posso vir a perder e, a barreira da opinião ou julgamento dos outros.
Tudo na nossa vida deve ser equilibrado e, depende de nós, sermos ou não bons equilibristas.
Quando deixei de fazer o sempre fiz a nível profissional, a única coisa de que tinha certeza era a de que aquilo já não me preenchia e sentia que daí para frente o fosso ia sendo cada vez maior.
Para fazer o que fazia tinha de deixar de ser eu próprio e usar um “disfarce” que me permitisse sorrir quando não queria, que me permitisse socializar quando queria estar sozinho e a bem da verdade, era cada vez mais frequente.
Tomei consciência disso muito tarde, quando para mim já não havia alternativa. Prometi que daí em diante de tudo faria para que não me voltasse a acontecer e, com isso, ajudar outras pessoas a ter alternativas para que quando olhassem para trás ainda houvesse um caminho.
O que me motivava eram as pessoas, os seus comportamentos, as suas opções, as suas estratégias para alcançarem o que pretendem, o que as trava e no que elas têm de acreditar para viverem a vida que merecem.
Descobri que o mais importante não é apenas o que queres fazer, mas a pessoa que tens de ser, as capacidades que tens de ter, em que é que tens de acreditar e as perguntas que tens de fazer para deixares de acreditar naquilo que ao longo de toda a tua vida generalizaste e que te trouxeram crenças limitadoras. É isso que te vai permitir fazer o que tens de fazer, para assim, conseguires teres. Teres-te a ti.
Não deixes que te imponham qual o caminho que deves seguir, não permitas que te imponham objectivos e metas que não são tuas, não assumas valores alheios que te destroem. Se assim acontecer, vives outra vida que não a tua, acreditas em verdades que não são tuas e que servem a alguém, que servem a todos, mas que não te servem a ti.
Quando deres por ti, quando já não houver mais alternativas a não ser tornar consciente as evidências, vem o vazio, o peso nos ombros como uma mola que te puxa para baixo, o conforto desconfortável da cabeça baixa, a olhar para o chão, à procura de sensações férteis em terrenos estéreis que tu inconscientemente plantaste, de uma sementeira contaminada, fora de época.
Tudo, porque não soubeste parar para refletir e questionar se a vida que os outros queriam que tu levasses era aquela que te permitia ser livre, leve, apaixonada. A vida que te permitia seres tu. O propósito que leva à tua vida.