O Medo Saudável
O medo saudável e o medo paralisante. Hoje vou-te falar do medo saudável.
Tinha dezassete anos, ia de mota a caminho de uma aula. Aquele trajeto era feito todos os dias, por vezes, mais do que duas vezes por dia.
Ia atrasado e com a adrenalina e alguma inconsciência própria de um jovem daquela idade, aquelas ruas eram uma pista, com pontos de travagem definidos, os buracos a evitar, as passadeiras que faziam escorregar a mota, tudo estudado.
Numa curva para esquerda, aquilo a que se chama curva cega, onde não vemos o final da curva, tive o que chamei o episódio mais misteriosos, bizarro, o que queriam chamar e que não está no domínio do racional.
No final dessa curva havia uma passadeira, mas de tão gasta que estava, não fazia sequer escorregar a mota, tornando-a numa curva rápida, que gostava especialmente de fazer, mesmo sabendo que não via o fim da curva, podia-a a fazer a “fundo”.
Quando fiz a inclinação para a curva, senti um peso enorme no meu pé direito, uma reação não voluntária que fez com que a traseira da mota começasse a fugir e a levasse a entrar em sobre viragem. Fui tudo tão rápido que não tive tempo naquele momento para racionalizar o que estava a acontecer. O que vi a seguir foi aterrador!
Naquela passadeira, onde nunca tinha visto ninguém a atravessar, nesse dia, dois homens de uma transportadora, acartavam sobre um carrinho, um enorme frigorífico e, outros dois mais atrás, num carrinho semelhante, uma máquina de lavar.
Paralisei completamente, sentia a transpiração nas faces e na testa, um arrepio de frio atravessou-me o corpo, as minhas mãos e pernas tremiam, como se tivessem descarregado voltagem suficiente para iluminar um prédio. Tudo parecia acontecer em slow motion.
Na minha ideia, foram mais de cinco minutos, mas o carro que eu tinha ultrapassado, e que agora estava atrás de mim a buzinar por estar parado na estrada com a via livre, lembrou-me que foi tudo uma questão de segundos.
Durante meses evitei aquela rua, não conseguia sequer recordar aquele episódio sem que o meu coração começasse a bater desenfreadamente, a transpirar e, por fim, paralisava e lembrava-me de tudo aquilo. Levantou-se aqui uma crença “Aquilo foi um aviso para que eu não faça este caminho, pois algo pior pode acontecer”.
Uma verdade que se iria realizar se eu voltasse aquela rua. Era um caminho muito mais perto, mas se passasse por lá, algo pior poderia acontecer. Até que a necessidade me fez regressar aquela estrada e aí a crença deixou de o ser, passou a ser um pensamento ridículo.
É isto que o medo, quando não interpretado corretamente faz, paralisa, levanta “verdades confortáveis” apenas para nos manter seguros nos nossos pensamentos, com receio de uma profecia auto-realizadora inventada por nós.
Reparei que de uma forma inconsciente, tinha perdido o hábito de chegar atrasado, aliás, chegava sempre com bastante antecipação, algo que ainda hoje faço.
Aquela situação tinha mudado alguns hábitos na minha vida.
O medo que aquele episódio tinha desencadeado em mim, pelo facto de andar na corrida desenfreada enquanto conduzia, fazia-me agora agir de uma forma muito mais serena, cautelosa e, apesar de não ter medo de conduzir, tinha sim, precaução de uma surpresa desagradável.
Este é o medo saudável, aquela simples mensagem que o cérebro nos envia para nos preparar para algo, nada mais do que isso e, com ele, cresci.
E o medo que paralisa? Esse é bem conhecido, alimentado pela presença da dor, que nos mantém no circulo de conforto, onde conseguimos prever com maior facilidade, onde o mecanismo da ação já está tão enraizado que não precisamos de pensar para agir.
Queres partilhar comigo quais os teus principais medos?
Talvez eu te consiga explicar a verdadeira mensagem por detrás deles, o que ele te está realmente a querer dizer. Se assim for, algo na tua vida vai mudar!