Dor Silenciosa
Normalmente chega de uma forma silenciosa, sem sequer nos apercebermos. Sentimos que algo não está a fluir no caminho certo, que vem de nós, unicamente para nós.
Tentamos silencia-la, não lhe dando importância, ocupando-nos com assuntos supérfluos que em nada se comparam aquilo que podemos ganhar se a soubermos ouvir.
A dor é nossa, de mais ninguém. Omitimos para o mundo essa dor, pois fomos educados para sermos fortes, para não expressarmos fraquezas, assim é a sociedade.
Olhamos à nossa volta e tudo parece disfuncional, parece que nada pertence ali, naquele momento. Apercebemo-nos, muitas vezes pela primeira vez, que nada é nosso. De tão forte que é a dor silenciosa, tomamos consciência, nessa altura, que nem mesmo nós somos da nossa pertença.
Conseguimos sorrir com os lábios, disfarçamos, desempenhando a nossa melhor performance para que não vejam a dor, pois muitas vezes, uma simples pergunta “O que é que se passa?” torna a cabeça num liquidificador de pensamentos, onde tudo o que é lógico fica reduzido a nada.
Há a necessidade de guardar tudo no interior, protegidos de julgamentos sumários, de opiniões superficiais, até que a dor começa a ser percepcionada por rotinas desfeitas, pelo olhar vazio, pela intolerância a simples estímulos.
Queremos manter a imagem, a falsa fortificação edificada sobre um terreno lamacento, onde a qualquer momento tudo desmorona, sem tempo para abandonar o seu interior.
É a capacidade que temos de fazer essa reflexão que nos vai permitir acabar com a dor silenciosa, procurando ajuda, seja de que forma for, mas, mantermo-nos dentro do edifício pronto a ruir é que jamais.
Da dor silenciosa advém o sofrimento mais atroz, em que a ferida custa a sarar. Cabe-nos olhar para a ferida, aquela que só nós vemos e, decidir se a queremos estancar ou deixar que continue a alastrar. Não é vergonha nenhuma falar da dor, é o primeiro sinal de força, de contrariar o impulso normal e, acredita, é aí que começa a verdadeira descoberta. Essa descoberta vai-te trazer visão periférica à tua vida, vai-te fazer crescer uns centímetros (não é metáfora).
Esta semana, uma pessoa amiga, que já não me via há algum tempo, perguntou-me se eu estava mais alto. E sabem uma coisa? Sim! Porque levantei a cabeça, deixei de ter os ombros curvados em sinal de derrota e isto, deu-me mais alguns centímetros. Os olhos conseguem brilhar, com um brilho que me ilumina o presente e me guia para o futuro. O sorriso é rasgado, como o de uma criança, sem maldade, o meu peito abre-se para receber o melhor que a vida tem para mim, a felicidade, a paz, a harmonia.
Hoje, quando olho para trás, para um passado recente, continuo a reconhecer aquela pessoa que era. Cumprimento-o, pisco-lhe o olho, esboço-lhe um sorriso fraterno, de gratidão, pois sem isso, jamais seria o que sou hoje.
Ainda hoje me perguntam porque escrevo assim? Porque o faço com tanto detalhe? Com tanta exposição? É uma resposta tão fácil que também eu me pergunto se não chegam lá sem a minha resposta. Identificação, gratidão e ajuda.
Identifico-me com ela porque é a minha história, é a minha força, gratidão porque a vida me deu uma segunda oportunidade, ajuda porque na altura da dor silenciosa é importante saber que não estamos sozinhos (estranho não é?), mas é a verdade, sentimo-nos sozinhos quando todas as pessoas à nossa volta nos tentam ajudar.
Mas o mais importante, se eu consegui todos conseguem, com maior ou menor custo, mas conseguem.
Não desistas de ti, pois há pessoas que te querem bem, muito bem, mesmo que não o consigas ver.