A Criança
Por vezes parece que tudo anda ao contrário no nosso ciclo de vida. Em crianças queremos ser adultos, mas não podemos, em adultos admiramos a energia e a imaginação das crianças, recorrendo aquela frase: “Quem me dera ser criança e saber o que sei hoje.”
Esta semana estava sentado a brincar com a minha filha de cinco anos no quarto. Por vezes como espectador, outras como personagem secundária, mas nunca como personagem principal.
Ao observar toda aquela energia, a desmultiplicação de papéis, de cenários, e que eu próprio tinha dificuldade de acompanhar, surgiu-me a pergunta: “Depois de um dia de escola, de atividades físicas, de natação, onde é que ela ia buscar tanta energia?”.
Logicamente que nem tempo tive para desenvolver aquela questão interna. Uma mão pequena invadiu-me a face, com suavidade, para me chamar novamente para o seu mundo, desta vez na pele de uma professora.
Aquela feliz simplicidade, sem limites na imaginação entrando num mundo de sonhos, de idealizações, onde o sonhar acordado é a expressão mais pura. Tudo tinha solução.
Seriam horas de ir para a cama porque amanhã seria mais custoso acordar. “Não há problema pai, tenho de acabar o que estou a fazer (o papel da professora).”
Eu, como o pior aluno da professora, estava muito desatento, pois aquela frase tinha feito eco aqui dentro.
Era incrível como ela vestia aquele papel, não por ser professora. Fá-lo-ia com qualquer outro, mas a vontade de o desempenhar na perfeição, mesmo cansada, tinha-me feito pensar que lição poderia retirar dali.
A primeira, era que estava desatento aos ensinamentos da professora, mas a mais importante, não estava assim tão evidente e surgiram-me duas palavras, foco e determinação.
Foco no sentido e não na falta e, de facto, tinha sido esse o grande paradigma até agora. Foco em ação, em resolver e não no que está em falta.
A única falta era a minha total atenção enquanto divagava nesta questão, mas ela, rapidamente me fazia voltar aquele mundo, sem se preocupar no porquê de eu não estar atento.
Substituiu o “porquê”, por, “como”. “Como é que vou fazer para ganhar a atenção” e isso faz toda a diferença, muda o foco do problema para a solução.
A determinação da ação, de saber exatamente o que queria e como queria, sem perder tempo, colocando naquele momento toda a energia possível.
E o riso? Bem, esse desarma qualquer um. Um riso sincero, de algo tão simples que até se tornava incomodativo pelo fato de perceber que, afinal, a felicidade parte de pequenas coisas e que a soma dessas pequenas coisas, no final, é muito maior do que nós.
Tudo depende para onde direcionamos o nosso foco e a determinação com que o fazemos.
Se o foco está na parte negativa, então aí, surgem e levantam-se várias crenças que nos podem impedir de avançar. Se o direcionarmos para a solução, as nossas decisões movimentam-se no sentido da criação dos resultados desejados.